there is another life but nothing really can be changed once you are the main characters of sentimental tragedy of one soul trapped in different bodies
am I reincarnation of Simone de Beauvoir or why do I feel every single line from the inseparables
Durante um intervalo específico da minha trajetória — três ou quatro anos de erosão sutil — experimentei uma forma silenciosa de desconfiguração subjetiva. Não por ausência de amor-próprio, mas talvez por uma crença quase ingênua de que a entrega genuína seria, por si só, suficiente para transformar o outro. Essa expectativa — alimentada por vínculos emocionalmente negligentes — expôs-me à mais corrosiva das experiências: a de ser instrumentalizada afetivamente por presenças que jamais se interessaram pela minha inteireza. Não se tratava de conflito ou confronto direto, mas de um tipo de apagamento cotidiano, onde a indiferença se travestia de convivência e o vínculo era apenas um espelho opaco.
O mais inquietante, contudo, não foi o abandono em si, mas o deslocamento interno que ele provocou: a dúvida sobre a solidez do meu próprio caráter, a suspeita de que talvez os meus princípios — outrora tão firmes — estivessem obsoletos diante de uma realidade afetiva cada vez mais líquida e utilitária. Como escreveu Beauvoir, “ninguém é inocente, pois todos somos responsáveis uns pelos outros”; mas o que fazer quando essa responsabilidade se transforma em autoaniquilação?
A dor, nesse contexto, não foi apenas emocional — foi epistêmica. Foi preciso revisitar a ética da minha entrega, reexaminar os critérios do meu afeto, reconstituir a narrativa da minha subjetividade. Esse processo, embora árduo, não foi em vão. Ele gerou um tipo raro de lucidez: a de compreender que o amor, para ser legítimo, precisa reconhecer a alteridade sem colonizá-la. E que o afeto sem escuta é uma forma de violência simbólica.
Hoje, essa experiência permanece em mim não como trauma, mas como estrutura crítica. Carrego comigo não a mágoa, mas a sofisticação do olhar que aprendeu a distinguir reciprocidade de projeção, presença de performance, cuidado de controle. E se algo permaneceu inabalável, foi a consciência de que o meu gesto amoroso não será jamais desperdiçado em ausências disfarçadas de vínculo. Porque, como diria Clarice, “o que me dói é saber que sou real num mundo onde o real escapa”.
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